O manguezal é um ecossistema costeiro de todo o mundo,
típico dos litorais tropicais e subtropicais protegidos, banhados pelas marés,
localizados entre os seus níveis mais altos e mais baixos, evitando sempre
costas com fortes ressacas. Constitui verdadeiro ponto de ligação entre os
ambientes marinho, terrestre e de água doce.
Origina-se a partir do encontro das
águas doces dos rios e salgadas dos mares, formando a água salobra, em
ambientes de intensa deposição, como fundos de baía, estuários e reentrâncias
da costa, onde a velocidade das correntes é reduzida, favorecendo a deposição
de sedimentos como partículas de argila e matéria orgânica, que são geralmente
trazidos pelos rios e que formam um solo pouco compactado, movediço, mole, rico
em matéria orgânica em decomposição e, conseqüentemente, pouco oxigenado — o
oxigênio é totalmente retirado por bactérias que o utilizam para decompor a
matéria orgânica. A cadeia alimentar é baseada no uso dos detritos resultantes
da decomposição.
O Brasil tem uma das maiores
extensões de manguezais do mundo, numa superfície de cerca de 20 mil km2,
desde o Cabo Orange, no Amapá, até o município de Laguna, em Santa Catarina.
Ao contrário de outras florestas, os
manguezais não são ricos em espécies, porém destacam-se pela grande abundância
das populações que neles vivem. Somente três árvores constituem as florestas de
mangue: o mangue vermelho ou bravo (Rhirophora mangle), o mangue branco
(Laguncularia racemosa) e o mangue preto, siriba ou siriuba (Avicennia
schaueriana). Apresentam uma série de adaptações: raízes respiratórias,
capacidade de ultrafiltragem da água salobra e desenvolvimento das plântulas na
planta materna, para serem posteriormente dispersas pela água do mar. A flora
do manguezal pode ser acrescida de poucas espécies, como a samambaia do mangue,
a gramínea Spartina, a bromélia Tillandsia usneoides, o líquen Usrea
barbata (as duas últimas conhecidas como barba de velho e muito semelhantes
entre si) e o hibisco.
Os manguezais fornecem uma rica
alimentação protéica para a população litorânea brasileira. A pesca artesanal
de peixes, camarões, caranguejos e moluscos é, para os moradores do litoral, a
principal fonte de subsistência.
Quanto à fauna, destacam-se várias
espécies de caranguejos, formando enormes populações nos fundos lodosos. As ostras,
mexilhões, cracas e berbigões (um bivalve) se alimentam filtrando da água os
pequenos fragmentos de detritos vegetais, ricos em bactérias. Há também
espécies de moluscos que perfuram a madeira dos troncos de árvores, construindo
ali os seus tubos calcários e se alimentando de microorganismos que decompõem a
lignina dos troncos, auxiliando a renovação natural do ecossistema através da
queda de árvores velhas, muito perfuradas.
Os camarões também entram nos
mangues durante a maré alta para se alimentar. Muitas das espécies de peixes do
litoral brasileiro dependem das fontes alimentares do manguezal, pelo menos na
fase jovem. Entre eles estão bagres, robalos, manjubas e tainhas. A riqueza de
peixes atrai predadores, como algumas espécies de tubarões, cações e até
golfinhos.
Embora protegido por lei, o
manguezal ainda sofre com a destruição gratuita, poluição doméstica e química
das águas, derramamentos de petróleo e aterros mal planejados. Foi menosprezado
no passado, pois a presença do mangue estava intimamente associada à febre
amarela e malária, o manguezal foi durante muito tempo considerado um ambiente
inóspito pela presença constante de borrachudos, mosquitos pólvora e mutucas.
Cada um se vira como pode. Para fincar os pés na água, as
plantas do mangue desenvolvem
estratégias especiais. “Algumas têm um filtro que não deixa o sal entrar”, explica o
biólogo Clemente Coelho Júnior, da Universidade de São Paulo. Já outras não se
importam com o sal: elas o
absorvem e depois o eliminam pelas folhas, graças às glândulas que têm essa
finalidade. Nos dias quentes, quando a absorção de água é maior, dá
até para ver o sal preso nas folhas.
Como não podem respirar como peixes, as plantas usam uma
tática parecida com a dos mergulhadores para conseguir oxigênio: as raízes,
parecidas com um snorkel, se fixam no fundo lodoso e estendem ramificações para
a superfície. Nas suas pontas existem pequenos órgãos, chamados lenticelas, que
capturam ar do ambiente externo.
Mas poucas plantas agüentam essa parada. Existem apenas
cerca de cinqüenta espécies de vegetais de mangue, em todo o mundo, e algumas
estão em fase de transição biológica. Em breve, plantarão raízes em terra firme
e darão adeus para sempre ao lodo.
Fonte: Adaptação de Sabina Wiki
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