Mais da metade das espécies de anfíbios existentes apenas no cerrado
brasileiro podem desaparecer devido às mudanças do clima e a políticas
erradas de uso da terra. A conclusão é parte do projeto “Diversidade de
anfíbios no cerrado e prioridades para sua conservação em cenários
futuros de mudanças climáticas”, desenvolvido pela organização ambiental
Pequi, com apoio da Fundação Boticário.
O estudo, que durou quatro anos e foi parte de duas teses de doutorado
da Universidade Católica de Brasília, simulou o ambiente do cerrado em
2050, com temperatura 2ºC acima do normal, de acordo com previsão do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Tais
características foram aliadas aos modelos atuais de políticas públicas,
voltadas para a expansão agrícola na região, com dados sobre o
desmatamento do bioma.
Segundo a pesquisa, espécies de anfíbios como sapos e pererecas
existentes na região sul do bioma, área que abrange parte de Goiás, o
oeste de Minas Gerais, oeste da Bahia e sul do Tocantins, poderiam
desaparecer devido à destruição de seus habitats, que são áreas úmidas
da floresta ou próximo de lagos ou cursos de água.
“A ausência de locais adequados para sobrevivência e a elevação da
temperatura no cerrado fariam esses animais procurar por outras regiões
amenas. A região de floresta mais próxima seria a Mata Atlântica, mas
este bioma já praticamente desapareceu devido à expansão humana”, disse
Débora Silvano, professora do curso de Ciências Biológicas da
Universidade Católica de Brasília e coordenadora do estudo científico.
“A falta de ambiente adequado deve impactar na sobrevivência das
espécies de anfíbios”, explica.
Mapeamento
Segundo Débora, foram mapeados no cerrado 204 espécies de anfíbios,
sendo que 102 são endêmicas (existem apenas em determinada localidade).
Devido aos problemas ambientais citados, ao menos 50% dos animais que
vivem somente no bioma desapareceriam, como a perereca
P. berohoca e o sapinho
B. sazimai.
A população desses animais já pode ter sido reduzida neste ano devido à
alta incidência de queimadas no Centro-Oeste, que desde julho sofre com
o longo período de estiagem. “Quando é o período de seca, os anfíbios
costumam ficam enterrados em camadas úmidas do solo ou mesmo no interior
da floresta. Se o fogo atingiu essas áreas, é provável que esses
animais tenham sido atingidos”, complementa a pesquisadora.
Outro inimigo da biodiversidade local é o desmatamento. O cerrado
brasileiro teve uma área desmatada de 6.469 quilômetros quadrados entre
2009 e 2010, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente. O número
equivale a uma redução de 15,3% em relação à medição anterior
(2008-2009), quando o bioma perdeu 7.637 quilômetros quadrados de área.
Em números absolutos, o estado que mais desmatou foi o Maranhão, com
uma área de 1.587 km². Percentualmente, o Piauí foi o estado com maior
perda de área – 979 km² ou 1,05% da área de cerrado do estado.
Soluções
O estudo conclui que para evitar a mortalidade de espécies, o governo
deve criar sistemas de áreas protegidas conectadas, como unidades de
conservação com corredores ecológicos, que possibilitaria a migração
desses animais entre fragmentos de floresta.
“Isso evitaria a dispersão de espécies. Os anfíbios não conseguem ir
muito longe devido à dificuldade de mobilidade. É preciso que o governo
realize planejamentos para evitar o desmatamento do bioma,
principalmente na porção sul”, afirma Débora.
Fonte:
G1
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